Tuesday, April 11, 2006

filosofia de vida

sabe aquelas coisas de 'se nada der certo viro hippie', 'vou largar tudo e abrir um bar na praia'..? pois é, eu ultimamente ando pensando com bastante carinho nessas coisas. diria até que ando bolando altos planos para quando vir a realizar tais idéias. porque veja bem; ter vinte anos e não saber ainda em definitivo o que quero fazer profissionalmente, não conseguir arrumar um empreguinho que seja pra poder tomar aquela cervejinha do final de semana sem a ajuda de custo dos pais, aturar um cursinho pré-vestibular em que a faixa etária gira em torno dos 17 anos e se sentir uma 'tia', dentre outros martírios psicológicos, não é bem o que eu imaginava pro meu futuro. daí já começo a imaginar as cenas na minhas cabeça, como um filme...
marcella vestida de saia feita de estopa e tingida artesanalmente por ela mesma; sandália de couro com o solado tão gasto de tanto andar, fininho como um pedaço de papel ofício; cabelos desgrenhados, embaraçados, penteados pelo vento, condicionados pela água do mar; pele queimada do sol. leva consigo um tabuleiro onde expõe suas artes: colares feitos de palha de coqueiro e conchinhas, brincos com penas de pavão e galinha d'angola, pulseiras e tornoseleiras adornadas com os mais variados tipos de pedrinhas, anéis talhados em coquinho. vende pra tirar seu sustento, suas farrinhas. "irmãzinha, compra pra prestigiar meu trabalho." "bróder, leva pra tua gata, ela vai adorar." quando anoitece se reúne com os amigos na areia da praia e acende uma fogueira, à luz da lua, cantam, contam histórias. quando bate o sono vai pra sua palhoça e se estira na rede. adormece levada pelo embalo do vento, o barulho das ondas é sua canção de ninar. acorda cedinho pra pegar a primeira onda do dia, o sol raiando. dropando a vida. come frutas no café-da-manhã, verduras e legumes no almoço. é, ela agora é vegetariana, inadmissível quem mata seres vivos como nós pra comer, é quase um canibalismo. segue essa rotina até o dia que enjoar, afinal, nada a prende em lugar nenhum. no dia que se cansa, junta suas coisas na mochila, põe a prancha debaixo do braço e ruma pra outro pico. o mundo é sua casa, a natureza é sua mãe. e assim vai levando, sem dever satisfação a ninguém, sem se preocupar com o trânsito na agamenon magalhães que vai atrasar sua hora no terapeuta, sem pensar no projeto que seu chefe pediu que estivesse pronto pra ontem, no barulho ensurdecedor de vozes em um shopping center, na poluição dos carros, na gripe aviária, nas pesquisas nucleares no irã, no brasileiro no espaço, na manifestação dos jovens na frança, na eterna briga israel-palestina, no seu cachorro fazendo xixi no tapede da sala, no vizinho ouvindo música alta às duas horas da manhã...
é, falem o que quiserem, mas eu realmente invejo a filosofia de vida dessas pessoas, que têm coragem de viver alheias a tudo que traz preocupação, estresse, aperreio. um dia eu tomo coragem, jogo tudo pro alto e viro hippie. e por favor, comprem meus brinquinhos e pulseirinhas se me encontrarem em alguma praia desse brasil!