Tuesday, February 22, 2011

subúrbio.

Vida de bairro suburbano é uma coisa bem peculiar. Dia amanhecendo, o sol raiando, o galo cantando no quintal... é, isso mesmo, um galo no quintal! Mal começa a descrição de um dia num subúrbio, já notam-se as figuras pitorescas. O pobre animal, criado nos fundos da casa preso por uma cordinha amarrada no pé, serve como um ótimo despertador, mas também como um procriador da espécie. Pra fazer aquela bela galinha cabidela do almoço do domingo, nada melhor do que recorrer às penosas de estimação. Pra fazer o omelete do café-da-manhã, elas são igualmente importantes. Mas vamos adiante...
O sujeito, que já foi devidamente acordado com o auxílio de seu despertador ecológico, leva seu vira-latas pra passear pelo quarteirão. Sai cumprimentando toda a vizinhança, que também sai com seus respectivos vira-latas pra passear. Repare que em subúrbio todo mundo se conhece e, lógico, adora falar mal da vida alheia de manhã cedo. E pode ser a vida alheia próxima, como a mulher da rua de cima que pegou o marido com outra e jogou água da chaleira nos países baixos dele; ou vida alheia mais distante, como os motivos que fizeram o último eliminado do BBB pegar o passaporte para o olho da rua. Depois de um papinho matinal, é hora do cooper. Por cooper entenda-se "correr-pra-pegar-o-busão-lotado-e-não-chegar-atrasado-no-serviço". Viagem agradável, duas horinhas de passeio em veículo de luxo, com sistema de ar refrigerado, poltronas reclináveis e música ambiente pra relaxar. Oi? Ah sim, eu estava falando do transporte coletivo da Suíça, me enganei. Voltando ao Brasil, aqui o sujeito vai em pé espremido, levando "encoxada", suando em bicas e chacoalhando ao bel prazer do motorista mau-humorado que guia aquilo que costumamos chamar de ônibus, mas que pode ser bem definido como uma lata de sardinha. Sem falar que é uma aventura dessas na ida e outra na volta. Todo mundo largando do trabalho, cheirosinho, desafiando a Física e sua máxima de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Quem inventou isso nunca pegou um Rio Doce/CDU às 18h, não é mesmo?
Pois bem, aí o cristão chega em casa, mas não sem antes passar na padaria e pegar "1 real de pão" para a família comer no jantar e dar mais sustança àquela sopa de osso que a patroa faz com tanto carinho. E não pense que todo dia eles comem a mesma coisa não, o cardápio do jantar é variado: um dia é sopa de osso, no outro sopa de nervo, no seguinte canja de pé e pescoço de galinha, e por aí vai. Criatividade é tudo, né. E então, de bucho cheio, é hora de assistir a novela das 8 que passa às 9, naquela TV com imagem em "low-definition", chuviscando mais do que São Paulo em fim de tarde. Aí é dar uns gritos nos meninos pra irem dormir, que no outro dia tem escola, fazer um chameguinho na mulher que ninguém é de ferro, e partir pro ronco que no outro dia tem tuuuudo de novo.

Wednesday, September 06, 2006

violência

é engraçado como as pessoas temem tanto a violência, mas ao mesmo tempo se sentem tão atraídas e fascinadas por ela. basta assistir qualquer programa do tipo cardinot pra perceber isso. "fulano de tal foi baleado ali na esquina da rua tal!" corre o bairro inteiro pra ver o corpo lá, estirado. mas me digam, com que intenção? não bastaria só receber a notícia que o tal seu fulano foi morto? é necessário ir lá constatar onde foi o tiro, como o organismo do indivíduo reagiu a ele, se ficou se debatendo, se morreu na hora?
hoje mesmo presenciei, de camarote, uma situação do tipo. não tão trágica, mas mesmo assim, que reflete a curiosidade do povo quando se trata de violência. quantro assaltantes estavam sendo perseguidos por uns policiais, em pleno centro da cidade. os policiais, armados, atiravam para intimidar os bandidos. que reação você esperaria da população? que eles se escondessem com medo de levar um tiro no meio da testa, não é mesmo? pois é, mas acho que são todos highllanders aqui nas proximidades de onde eu moro. ao invés de fazer o esperado por quem tem medo da violência, eles corriam atrás dos policiais pra ver mais de perto a cena, como se fossem figurantes de um filme de ação. depois que dois dos assaltantes conseguiram ser detidos, o que se viu aqui foi uma chuva de pessoas loucas pra ver delinqüentes feridos e policiais empunhando armas. se eu não soubesse do que se tratava, acharia facilmente que era alguma distribuição de dinheiro, tamanha era a animação com que todos corriam.
tá, eu sei que eu não posso falar muito porque, pra relatar isso tudo, é óbvio que eu também tava espiando a operação caça-bandidos e etc. mas eu tava na janela, do alto do meu segundo andar, devidamente protegida por uma parede, tá?

Saturday, July 15, 2006

desculpas

eu, sinceramente, odeio pedidos de desculpas. não que eu seja uma pessoa hiper orgulhosa, que guarde rancor e que, nunquinha, seja capaz de perdoar uma pessoa. muito pelo contrário, eu sei totalmente passar por cima de situações desagradáveis e seguir sem ressentimentos. meu problema é com essa palavrinha, que me soa falsa, arrogante, superior. eu mesma, quando faço algo 'errado', sempre venho com essa ladainha, mas é que eu imagino que nem todo mundo deva pensar como eu, daí supervaloriza essa expressão 'me desculpa'. por via das dúvidas, vou lá e solto a danada. por outro lado, eu odeio quem faz alguma coisa errada e age como se nada tivesse acontecido, passa batido, finge que tá tudo normal. te trata mal e dois minutos depois te dá a mão. não, isso eu abomino. é que eu dou muito mais importância a um reconhecimento do erro, sem necessariamente vir acompanhado do pedido de desculpas. se tocar que fez algo errado, comentar sobre o fato, dizer que não faz mais, dizer por que fez, se achou normal, se não achou. porque aí fica tudo no nível da conversa. a partir do momento que vem a já citada expressão, dá a impressão que a pessoa a quem se pede desculpas é uma coitada, está sofrendo, um banana mesmo. e o outro sai com cara de vilão e, como já se vê nas novelas das oito, vilões são sempre mais bonitos, inteligentes e superiores. só ficaria faltando mesmo a sonoplastia, com aquela música melancólica. e fora que, muita gente acha que um simples pedido de perdão resolve tudo, solta da boca pra fora, sem nem ter refletido sobre o que fez.
já sabem, né? pisou na bola comigo, mande até eu me fuder, mas por favor, não peça 'desculpas'.

Tuesday, April 11, 2006

filosofia de vida

sabe aquelas coisas de 'se nada der certo viro hippie', 'vou largar tudo e abrir um bar na praia'..? pois é, eu ultimamente ando pensando com bastante carinho nessas coisas. diria até que ando bolando altos planos para quando vir a realizar tais idéias. porque veja bem; ter vinte anos e não saber ainda em definitivo o que quero fazer profissionalmente, não conseguir arrumar um empreguinho que seja pra poder tomar aquela cervejinha do final de semana sem a ajuda de custo dos pais, aturar um cursinho pré-vestibular em que a faixa etária gira em torno dos 17 anos e se sentir uma 'tia', dentre outros martírios psicológicos, não é bem o que eu imaginava pro meu futuro. daí já começo a imaginar as cenas na minhas cabeça, como um filme...
marcella vestida de saia feita de estopa e tingida artesanalmente por ela mesma; sandália de couro com o solado tão gasto de tanto andar, fininho como um pedaço de papel ofício; cabelos desgrenhados, embaraçados, penteados pelo vento, condicionados pela água do mar; pele queimada do sol. leva consigo um tabuleiro onde expõe suas artes: colares feitos de palha de coqueiro e conchinhas, brincos com penas de pavão e galinha d'angola, pulseiras e tornoseleiras adornadas com os mais variados tipos de pedrinhas, anéis talhados em coquinho. vende pra tirar seu sustento, suas farrinhas. "irmãzinha, compra pra prestigiar meu trabalho." "bróder, leva pra tua gata, ela vai adorar." quando anoitece se reúne com os amigos na areia da praia e acende uma fogueira, à luz da lua, cantam, contam histórias. quando bate o sono vai pra sua palhoça e se estira na rede. adormece levada pelo embalo do vento, o barulho das ondas é sua canção de ninar. acorda cedinho pra pegar a primeira onda do dia, o sol raiando. dropando a vida. come frutas no café-da-manhã, verduras e legumes no almoço. é, ela agora é vegetariana, inadmissível quem mata seres vivos como nós pra comer, é quase um canibalismo. segue essa rotina até o dia que enjoar, afinal, nada a prende em lugar nenhum. no dia que se cansa, junta suas coisas na mochila, põe a prancha debaixo do braço e ruma pra outro pico. o mundo é sua casa, a natureza é sua mãe. e assim vai levando, sem dever satisfação a ninguém, sem se preocupar com o trânsito na agamenon magalhães que vai atrasar sua hora no terapeuta, sem pensar no projeto que seu chefe pediu que estivesse pronto pra ontem, no barulho ensurdecedor de vozes em um shopping center, na poluição dos carros, na gripe aviária, nas pesquisas nucleares no irã, no brasileiro no espaço, na manifestação dos jovens na frança, na eterna briga israel-palestina, no seu cachorro fazendo xixi no tapede da sala, no vizinho ouvindo música alta às duas horas da manhã...
é, falem o que quiserem, mas eu realmente invejo a filosofia de vida dessas pessoas, que têm coragem de viver alheias a tudo que traz preocupação, estresse, aperreio. um dia eu tomo coragem, jogo tudo pro alto e viro hippie. e por favor, comprem meus brinquinhos e pulseirinhas se me encontrarem em alguma praia desse brasil!

Wednesday, February 22, 2006

ó, baixeza

sabe, eu tenho um semi-complexo por causa da minha altura [ou melhor, por causa da falta dela]. é semi porque eu nunca fui de encucar totalmente com isso, nunca quis apelar pra sopa de fermento, nem quis matar minha mãe e fazer churrasquinho dela por a criatura ter me parido em tamanho reduzido, mas no fundo rola uma vontadezinha de ter uns centímetros a mais, que fosse.
quando eu era criança, tinha a ilusão de que ia crescer; lia aquelas revistas 'querida', 'capricho' e jurava que um dia poderia participar daqueles concursos de modelos tipo 'garota da capa'. na minha cabeça, bastava só esperar uns poucos anos, a puberdade viria, passaria pelo famoso 'estirão' e logo logo eu teria o tamanho ideal para tais planos. eu só esqueci de raciocinar que, pra tal coisa acontecer, eu teria que ser filha do padeiro, do açougueiro, ou do seu zé da vendinha lá perto de casa, porque com pais baixinhos feito os meus, se eu crescesse o tanto que eu esperava, ia virar caso de dna pro programa do ratinho.
aí depois que eu cheguei a essa conclusão, acabei me conformando com os fatos e aceitei bem minha sina. e até hoje convivo bem com essa realidade, tanto é que nem sou feito aquelas meninas que usam sapatos com saltos que mais parecem pernas-de-pau, vinte e quatro horas por dia, só pra parecerem mais altas. ando muito bem com minhas havaianas, meus chinelinhos de couro, tênis e afins. mas sabe aqueles dias que as raízes do complexo resolvem brotar? é, essa semana tive um desses.
saí de casa pra ir à academia de ginástica, com o sono e a preguiça habituais. daí, já deduz-se o humor super radiante que tomava o meu ser. de repente me surge um peão/pedreiro/guardador-de-carros ou qualquer coisa do tipo e solta um 'êta, que baixinha bôa'. me chame de boa, de ruim, de mais ou menos, do que quiser, mas de baixinha? tirou todo o clima da cantada de baixo calão, sinceramente. aí eu continuo, fingindo que nem ouvi, e vou atravessando a rua. como eu sou super educada, atravessei na faixa de pedestres, já também pensando que me livraria de qualquer comentário vindo daquele simpático palhaço do detran que tava lá próximo, quando ele me vem com uma poesia digna de vinicius de moraes: 'tão pequeneninha, do tamanho de um botão. guardo o papai no bolso, e a mamãe no coração.'
aí imagina só, em menos de cinquanta metros de percurso, duas pessoas me chamando de pequena, é de se esperar que o complexo volte à tona, né. e ainda mais chegar na academia e a professora ter que regular a altura de todos os equipamentos para o mínimo, e o mínimo ainda ser máximo para o meu super porte físico.
gente, por que deus me enrolou e me fez passar direto da fila da altura, por que não me fez filha dos pais na daniela cicarelli? por quê, por queê??

Tuesday, February 21, 2006

implicância

eu realmente preciso parar com essa minha implicância gratuita para com algumas coisas ou algumas pessoas. mas não sei se vou conseguir, porque esse é um defeito que me acompanha desde que eu nem me entendia por gente. sabe aquela coisa de entrar um coleguinha novo na classe, sentar do seu lado, e você olhar com a cara mais feia do mundo, como se a pobre criança fosse um leproso? e você fica olhando pros lados com aquele ar de perdido, perguntando aos céus por que ele foi sentar justo na banca ao lado da sua? e chega no recreio você trata de espalhar pros seus amigos que ele é um chato, mongol, e que passa a aula toda tirando meleca do nariz? é, acho que foi bem por aí que começou esse meu problema. não sei se vocês se identificaram com a situação, mas, é a visão perfeita da minha infância. mas o estranho é que ninguém me fazia nada, pelo contrário, até tentavam ser simpáticos comigo, fazer comentários, me chamar pra brincar junto, mas isso me irritava ainda mais. eu necessitava odiar e ser odiada por essas pessoas, sabe-se lá o porquê. tá certo que hoje em dia dei uma grande mudada já, eu implico e guardo pra mim mesma, porque depois eu acabo mudando minha opinião, e se eu saio espalhando por aí minhas impressões iniciais, depois fica parecendo que eu sou falsa, duas-caras, enfim. mas eu gosto disso, é meio que um esporte. e o que fez reacender essa discussão eu comigo mesma, foi esse bendito show do U2. sim, eu tenho uma enorme implicância por eles. sempre achei o bono vox ridículo, com nome de biscoito, metido a bom samaritano. acho que o sonho dele era ser presidente, primeiro-ministro, ou até a própria madre tereza de calcutá. faz aquele estilo 'genro que toda mãe gostaria de ter', é caridoso, politizado, religioso. mas sabe que eu odeio gente certinha demais, e esse é o ponto principal dos meus ataques em relação a ele. consequentemente, não pude deixar de destilar o meu veneno, que foi se alastrando pro resto da banda, que eu dizia serem todos paga-paus do 'richester'; pras músicas, que eu taxava todas como, no mínimo, sem-graça, e assim por diante. e, como não podia deixar de ser, eu mordi a língua! decidi assistir o show só pra ter mais embasamento pras minhas críticas e acabei me dando conta de que eu conhecia praticamente todas as músicas, achava-as fofas, cantei algumas quase inteiras e cantarolei todo o resto. agora me digam, com que cara eu vou chegar, depois de todas as coisas que eu disse, pra vir falar que a-do-rei a apresentação, que tô com vontade de ver denovo, que achei lindo quando ele falou um monte de coisas em português (e não só 'oi' e 'obrigado', como a maioria das atrações internacionais que vêm pra cá), que tive uma baita inveja da menina que dançou, fez carinho, e até deu beijinho no 'passatempo recheado', inveja do menininho que cantou com ele, enfim. sou uma ridícula, né?

[mas só pra não perder a prática, achei todo um exagero aquela coisa comovente de direitos humanos, de palestina e israel, de nhém nhém nhém, blá blá blá. essa parte eu descartaria totalmente, deixa isso pro nelson mandela mesmo.]

Sunday, January 01, 2006

christina ricci

pois entao eu descobri sabado que eu pareco um bocado com a christina ricci. pelo menos, segundo um certo desenhista. o causo eh o seguinte: meu aniversario foi dia 30 [parabens pra mim, obrigada.] e minha querida mae achou por bem me presentear com um desenho de minha pessoa. assim, parecido com aqueles que fazem dos turistas em algumas praias de algumas cidades brasileiras. soh que como eu nao podia posar pro desenho, porque seria uma surpresa, ela deu uma foto minha pro cidadao desenhista copiar. e o combinado foi de ele fazer o bendito desenho e entregar pra ela a tempo de colocar numa moldura bonitinha, toda uma frescurite envolvida. mas ai chegou o dia 30 e o camarada nao apareceu pra entregar o desenho. minha mae pensou: vai ver o atraso foi porque ele caprichou, minha filha eh muito linda e merece um trabalho primoroso [ok, o "filha muito linda" fui eu que inclui no pensamento]. mas entao como o momento magico de fazer uma surpresa ja tinha passado, mamae me contou que tinha encomendado esse desenho e que estava aguardando um sinal do tal homem que ficou de faze-lo. e no dia 31 ele resolveu aparecer. eu ja estava super curiosa para ve-lo, tava achando bem chique essa coisa toda. tenho uma prima rica que tem um quadro com um desenho dela pendurado bem na parede da casa dela, e eu sempre achei isso muito pomposo. e agora eu poderia ter um meu, soh meu. mas soh que mamae chegou em casa com o desenho enroladinho, sem moldura nem nada, e uma cara bem intrigante. me entregou o desenho enroladinho e disse, ainda com a cara intrigante: "olha ai, ve o que tu acha." - e manteve a cara intrigante. eu peguei o papelzinho, desenrolei, e fiquei olhando estupefata: "mae, voce entregou o meu retrato ou o da christina ricci?!?!"
vamos combinar que a minha testa eh um pouquinho extensa, mas como assim que ele me desenhou com 2km de testa?! e agora a duvida que assola a minha mente: eu pareco realmente com a christina "testa" ricci?! aquela mesma, que fez a familia addams?
pra tentar resolver tal duvida, entrei num desses sites de inutilidades que tem como funcao apontar com qual pessoa famosa voce se parece. nao tinha a tal foto copiada pelo desenhista no computador, entao mandei outra mais ou menos parecida. e o resultado? consta la, de acordo com o site, olhado e analisado pelo computadorzinho deles, que eu pareco com a halle berry!
preciso nem dizer que agora eu estou com crise de identidade, ne?